Com certo orgulho, a Amazon anunciou o Sparrow, robô que usa inteligência artificial para separar produtos individuais no estoque. De acordo com a companhia, a novidade irá apoiar o trabalho de seus funcionários. Mas, entre eles, o clima não é de comemoração. Existe o temor de que este seja mais um caso de tecnologia “roubando” empregos.
A Amazon já tem bastante automação e robótica em seus depósitos. Mas sempre há espaço para mais. O Sparrow foi apresentado como um braço robótico que pode “detectar, selecionar e manipular produtos individuais” no estoque da empresa.
Depois que esse trabalho é feito, os produtos podem ser embalados e, então, enviados aos compradores. Não é um processo simples. Somente em 2021, os armazéns da Amazon em todo o mundo movimentaram cerca de 5 bilhões de pacotes, o que corresponde a pouco mais de 13 milhões de volumes por dia.
Os detalhes sobre como o robô funciona não foram divulgados. Pelo menos a Amazon explicou que o Sparrow usa visão computacional — campo da inteligência artificial que processa dados visuais — para reconhecer e lidar com os produtos. Milhões deles.
O braço robótico faz parte dos esforços da Amazon de automatizar as suas operações tanto quanto possível. A companhia aponta para duas vantagens. A primeira: o Sparrow assumirá tarefas repetitivas, deixando os funcionários livres para outras tarefas e mais seguros. A segunda: a que novidade contribuirá para agilizar a entrega dos produtos.
Qual o problema, então?
Pela lógica, o anúncio oficial do Sparrow deveria tratar apenas do robô, mas a Amazon também destacou ali um “investimento” em seus colaboradores. É como se a companhia soubesse que revelar a tecnologia geraria questionamentos sobre empregabilidade e tentasse apaziguar os ânimos.
Não adiantou. O jornal Business Insider ouviu de um funcionário da Amazon que o Sparrow “vai pegar o meu trabalho”. Ainda de acordo com o veículo, em fóruns dedicados aos trabalhadores dos armazéns da companhia, há uma discussão sobre o braço robótico deixar os galpões “silenciosos”, apenas com pequenas equipes para consertar os robôs.
Exagero? Talvez. Mas os funcionários têm motivos para ficar preocupados. Historicamente, a automação é associada à diminuição de empregos em vários segmentos da indústria.
Além disso, como gigante do comércio eletrônico que é, a Amazon emprega muita gente em seus depósitos. São mais de 750 mil pessoas só nos Estados Unidos. É de se imaginar que a companhia queira diminuir esse número em prol da redução de custos.
Empregos não estão em risco
Bom, esse é o recado que a Amazon tenta transmitir. No anúncio do Sparrow, a empresa afirma que, desde que passou a investir em robótica e tecnologia, já gerou mais de 700 categorias de empregos.
Atrelado a essas vagas está um programa de qualificação focado em mecatrônica e robótica. “Após a conclusão do estágio, o salário dos funcionários aumenta em cerca de 40% entre os participantes do programa”, complementa a companhia.
A menção ao programa de qualificação deixa claro que, a despeito dos temores, a Amazon não está disposta a recuar em seu plano de modernização estrutural. A empresa argumenta que a automação ajuda até a melhorar a segurança dos funcionários.
Mas há controvérsias sobre o último aspecto. O Business Insider chama a atenção para um relatório publicado em 2020 que revela que os funcionários de armazéns robotizados da Amazon sofrem mais lesões do que aqueles que trabalham em depósitos não robotizados.
Motivo: os funcionários tentam acompanhar o ritmo dos robôs, que se movem mais rapidamente que qualquer humano.
Sparrow reconhecer 65% dos produtos
Por enquanto, o Sparrow está em teste em um depósito da Amazon no Texas. A companhia planeja colocar mais unidades em operação a partir de 2023, embora tenha alguns desafios para isso, como adaptar os armazéns.
Apesar de ainda não estar oficialmente finalizado, sabe-se que o braço robótico já é capaz de detectar cerca de 65% dos produtos da Amazon.
Quando plenamente em uso, o robô deverá selecionar itens com diferentes tamanhos e formas, movê-los entre caixas por meio de ventosas e, com isso, separá-los para envio ou retorno aos estoques.